Luta Libertária: não existe liberdade individual

les milicies us necessiten!
A liberdade sem o socialismo, é o privilégio, a injustiça.O socialismo sem a liberdade é a escravidão e a brutalidade.” Bakunin Esta é a conclusão de nossa reflexão. Te convidamos a acompanhar o raciocínio que nos fez chegar até ela. O conceito de liberdade é um dos principais pilares do anarquismo. Podemos dizer que essa é uma afirmação válida para todas as correntes anarquistas e, que suas divergências se baseiam em grande medida na maneira como cada qual interpreta a idéia de liberdade. Nunca é demais lembrar que a palavra “libertário” antecede a própria palavra “anarquista” para designar nossa corrente dentro do socialismo. Quando falamos em liberdade é necessário um certo cuidado. A liberdade é uma palavra sublime que designa uma grande coisa, mas que, entretanto, requer ser bem definida, sem o que não escaparemos do equívoco (Bakunin). A liberdade tem que ser real e não apenas uma idéia abstrata, deve ser a possibilidade de realizar as potencialidades humanas, ou seja, é algo concreta e não fantasioso. A liberdade que queremos não é o direito abstrato de agir como se entende, mas o poder de fazê-lo; o que supõe portanto, para cada um os meios de poder viver e agir sem submeter-se à vontade dos outros. E como a primeira condição para viver é produzir, a livre disposição para todos do solo, das matérias-primas e dos instrumentos de trabalho é a condição preliminar da liberdade (Malatesta), assim sendo, na verdade, hoje, nós lutamos por liberdade, mas estamos longe de viver em liberdade. A “liberdade” da qual nos falam hoje em dia é a liberdade do capitalismo, que não é feita para as pessoas mas para a circulação de mercadorias e capitais. No capitalismo não é o ser humano que tem liberdade, mas o capital. A própria burguesia somente é livre porque detém o capital. Em relação à nossa classe … É preciso estar cheio de ilusões para imaginar que um trabalhador, nas condições econômicas e sociais em que se encontra atualmente, pode aproveitar plenamente a sua liberdade política e dela fazer uso sério e real. Para isso faltam duas pequenas coisas: tempo livre e meios materiais. Por isso se diz: Não falem de liberdade: a pobreza é a escravidão (Bakunin). Portanto, dentro do capitalismo só há uma possibilidade de liberdade efetiva: sendo um burguês. Mas essa é necessariamente uma liberdade que se faz às custas da maioria da sociedade, logo conclui-se que é uma liberdade individualista, fundada na exploração do trabalho alheio. Quando se fala de liberdade em política, e não em ‘filosofia’, ninguém pensa na quimera metafísica do homem abstrato, existindo fora do meio cósmico e social e que, poderia, qual um deus, ‘fazer o que melhor lhe aprouvesse’, no sentido absoluto da expressão. Quando se fala de liberdade, queremos falar de uma sociedade na qual ninguém poderia ser violento em relação aos outros sem encontrar uma resistência eficaz, e sobretudo uma sociedade na qual ninguém poderia englobar a força coletiva e utilizá-la para impor sua própria vontade aos outros nem às próprias coletividades que fornecem a força (Malatesta). Por outro lado, a igualdade econômica por si só não basta. A igualdade sem liberdade torna-se rapidamente a escravidão. A socialização das decisões é uma condição para a liberdade, quem não decide sobre destino não pode ser livre. Os regimes da URSS e do leste europeu demonstraram isso de maneira cabal. A liberdade do indivíduo é sempre realizada socialmente Para o pensamento liberal, que é a ideologia do capitalismo, a liberdade individual é sempre ameaçada pelo outro. A liberdade das pessoas parece ser demarcada como uma propriedade privada. É conhecido o velho ditado: “a sua liberdade termina onde começa a do outro”. Nesse tipo de concepção o outro é sempre uma fronteira, um limite, uma barreira à realização da liberdade. O outro aparece sempre como um inimigo, como um concorrente, sempre na iminência de tomar uma fatia de nossa liberdade. É a própria lógica da concorrência capitalista e da propriedade privada que se mostra neste tipo de pensamento. Esta concepção está baseada numa falsa idéia do pensamento iluminista e liberal. Na verdade é uma idealização. Rosseau por exemplo imaginava que o homem nascia livre e a sociedade limitava sua liberdade. Esta idéia supõe um homem que já nasce com uma liberdade individual, no estado de natureza, que depois lhe é tirada. É como se a sociedade fosse um obstáculo à liberdade do indivíduo. Para reaver esta liberdade precisaríamos ‘voltar às origens’. Bakunin sempre criticou estas idéias de Rosseau onde a liberdade de cada um é o limite ou a negação natural da liberdade de todos os outros. Ao contrário de Rosseau, Bakunin partindo não de uma idealização, mas de própria história humana, percebia que o homem não nascia livre e portanto não possuía nenhuma liberdade anterior à sociedade. A idéia de um homem anterior à sociedade era absurda para Bakunin, o homem já nasce como um ser social. Segundo Bakunin mesmo o homem mais dotado da natureza, não recebe mais que faculdades, mas estas permanecem adormecidas se não forem adubadas pela ação benéfica e poderosa da coletividade. Dessa forma chegamos a conclusões opostas sobre a relação entre o indivíduo e a coletividade. Para Bakunin a sociedade é o que potencializa a liberdade individual: entendo esta liberdade de cada um que, longe de parar como diante de um marco, diante da liberdade de outrem, encontra aí sua confirmação e sua extensão ao infinito. Fica claro que dentro do capitalismo a liberdade das pessoas é limitada por uma série de fatores. A liberdade possível dentro desse quadro é bem limitada, a menos que alguém se contente com uma liberdade bem abstrata. Ou então, é conseguida – direta ou indiretamente – às custas de exploração e miséria alheia. Entendida a liberdade no sentido social e solidário, tornam-se absurdas as idéias de uma liberdade abstrata e ilimitada que se faz por sobre o sacrifício do coletivo. Malatesta dizia por exemplo que “seria ridículo pensar que nós, partidários da liberdade, quiséssemos que cada um tivesse a liberdade de matar seus semelhantes”. É uma falsa polêmica opor indivíduo e sociedade, uma vez que a realização da liberdade de um indivíduo somente se dá socialmente. A verdadeira oposição existente se dá entre os que desejam realizar sua liberdade individual às custas da sociedade – individualismo – e aqueles que pretendem realizar sua liberdade individual em solidariedade com os demais. Na sociedade grega antiga o homem, o indivíduo somente se desenvolvia e se tornava pleno no espaço público, social. Os indivíduos apartados da convivência social, que se privavam dela, se tornavam medíocres, e o castigo máximo naquela sociedade era o degredo, a expulsão da sociedade, à privação, à condenação ao espaço privado. Os gregos aliás tinham um sinônimo interessante de ser lembrado nos tempos de hoje em relação ao que era privado, privatus era igual a idiotes (idiota). Interessante lembrar este sinônimo em tempos de privatização de tudo na sociedade, o que obviamente caminha junto com a idiotização desta sociedade. A liberdade exige participação e responsabilidade. Essa condição é fundamental para existência da liberdade. Para que não exista um poder autoritário e coercitivo não basta acabar com a opressão, é necessário acabar também com a submissão. O poder surge sempre do vazio de participação. Na medida em que alguém deixa de participar e se omite não assumindo a responsabilidade em cada momento da vida, deixa um campo aberto, um vazio que será preenchido de alguma forma. Assim surge o poder. Portanto a participação é o ato de assumir a responsabilidade pelo seu próprio destino é uma pré-condição para qualquer um ser livre. É comum observarmos pessoas que após assumirem livremente um compromisso qualquer que seja, deixam de cumprí-lo e quando são cobradas por isso, justificam-se dizendo que estavam exercendo sua “liberdade individual”. Esse tipo de comportamento, tão comum, não tem nada a ver com liberdade. Uma certa disciplina, não automática mas sim voluntária e refletida, e que esteja em perfeito acordo com a liberdade dos indivíduos, é e será sempre necessária cada vez que muitos indivíduos, livremente unidos, empreendam um trabalho ou uma ação coletiva., não importa qual. Em tais casos a disciplina não é nada mais que a concordância voluntária e reflexiva de todos os esforços individuais rumo a um fim comum (Bakunin). Quando se dividem livremente as tarefas dentro de um coletivo o não cumprimento por parte de uma pessoa é na verdade uma agressão à liberdade de todos os demais que empenharam o seu tempo e seus esforços numa coisa que ficará prejudicada pela irresponsabilidade de uma pessoa. Quem entende isso como ‘liberdade’ certamente só entende liberdade de um ponto de vista individualista, pois despreza e desconsidera as demais individualidades, ou seja, o coletivo. Em resumo o individualismo é o comportamento no qual um indivíduo prejudica e oprime a liberdade de outras individualidades. Quando dissemos no título deste texto que não existe liberdade individual estávamos na verdade fazendo uma provocação no sentido esclarecer que qualquer liberdade que um indivíduo tenha neste mundo tem um caráter social. Em nosso conceito de liberdade as palavras fraternidade, igualdade e responsabilidade são necessárias também, pois, é isso que faz com que desejemos e lutemos pela liberdade de todos e não apenas para alguns indivíduos ou para alguma classe privilegiada.
Geografia e Luta – Prof.Mazucheli: Luta Libertária: não existe liberdade individual

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